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domingo, 10 de agosto de 2008

A Segunda Língua do Surdo - Experiência em Grupo

A surdez antes de ser um problema audiológico, é uma questão social. O Surdo não é um ser patológico, mas um sujeito que tem uma língua natural, a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) e, o português é uma segunda língua. (Skliar, 1997).
Respeitando, em primeiro lugar, esta condição do Surdo de ter uma língua natural, de ter suas próprias demandas de discussão e de estar inserido em uma comunidade majoritária, a ouvinte. Também, buscando uma forma diferenciada de oferecer a aprendizagem da segunda língua ao Surdo, iniciei um grupo com cinco jovens Surdos, com idade entre 14 e 20 anos, no mês de maio de 1999, na Clínica da Escola de Ensino Fundamental Frei Pacífico - Educação para Surdos, em Porto Alegre/RS, considerando a importância de estimular a autonomia e a identidade de cada um, oportunizando vivências estimuladoras, respeitando a identidade Surda e oferecendo a estes condições de demonstrar seus interesses e necessidades, vivenciando situações que privilegiem a função da escrita em nosso cotidiano. No livro de Laborit (1996) há um trecho onde diz, "tenho necessidade dos outros, de trocas. Tenho necessidade de uma comunidade. Não poderia viver sem os ouvintes nem sem os Surdos. A comunicação é minha paixão... quero me comunicar... Dou uma enorme importância ao que é escrito... E escrever na língua materna de vocês. A língua de meus pais. Minha língua adotiva..."
Segundo Poersch (1995), "há três fatores para o aprendizado de uma segunda língua: - fatores motivacionais, fatores construídos no sujeito aprendiz devido ao contexto comunicacional lingüístico em que ele se insere; - atenção, que é derivada da motivação, ou seja, dependerá da maneira como o aprendiz tem contato com a língua a ser aprendida (métodos e técnicas utilizadas no ensino, oportunidades e qualidades da utilização da língua); - memória, que provém da atenção e está relacionada à aptidão do indivíduo para o aprendizado de novas línguas".
A partir de interesses do grupo, selecionamos assuntos a serem debatidos ao longo dos encontros, através da LIBRAS. Já que, segundo Pichon Rivière: "O grupo é um sistema de ações, que surge a partir de necessidades dos integrantes, o que determina a existência de objetivos e de tarefas para alcançá-los". Além de debater os assuntos selecionados, produzimos atividades com ênfase na aprimoração da língua portuguesa escrita e ampliação do vocabulário, através da confecção de painéis, convites, produções textuais, dramatizações, entrevistas, dentre outros. Durante as atividades recebemos a visita de duas professoras Surdas da Bahia e de um grupo de jovens Surdos da Escola Lília Mazeron, coordenado por duas estagiárias de fonoaudiologia, o que nos proporcionou importantes trocas de experiências.
É fundamental permitir que o indivíduo Surdo se expresse, a partir de trocas de idéias e do diálogo, pois o diálogo não é apenas um estímulo para auxiliar na estruturação da linguagem do Surdo, é uma necessidade vital de qualquer ser humano, que permite relacionar a realidade interna com a externa do indivíduo.
No ano de 2000, confeccionamos o Jornal Mundo Surdo, o qual circulou por grande parte da Comunidade Surda, inclusive do interior, contendo entrevistas, comentários, eventos, espaço para arte, informações, partindo de interesses e necessidades dos próprios Surdos.
Em seguida, mantivemos contato através de cartas com surdos do município de Canela/RS, foi uma experiência bastante significante, pois pudemos trocar informações e idéias com surdos que vivem numa outra realidade.
Este trabalho em grupo vem proporcionando aos integrantes o crescimento da autonomia e da crítica perante a sociedade, a interação, a troca de idéias, a ampliação do vocabulário, a melhora na produção escrita, maior interesse pelo atendimento fonoaudiológico individual e em grupo.
Na experiência em grupo, pode-se vivenciar situações de muito valor. Acredito ser esta experiência muito significante, onde a troca é a base de qualquer aprendizado, tornando o trabalho mais gratificante e com maior retorno. Segundo Pichon Rivière: "A mútua representação interna vai correndo em diferentes níveis, a partir de diferentes vínculos em que todos se percebem em uma relação de uniformidade e de diferenciação em que, a partir das diferenças de cada um, se desenvolvem as semelhanças presentes na grupalidade".

Autora: Fga. Luciana dos Santos Célia

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